sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Nostalgia

Ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar.

A primeira lágrima molha minhas folhas, mas a trilha sonora indica que há algo mais querendo sair de mim: são recortes de braços, pernas, cabeça, coração. Imagens de momentos que ainda permanecem em mim, como pedaços de jornais guardados num armário antigo. Recortes de dias que já mofaram, mas que eu ainda guardo por simples usualidade. Usual idade.
Enquanto eu tiver meus neurônios funcionando, enquanto tiver sangue circulando pelas minhas artérias e enquanto eu não fechar meus olhos pela última vez, eles vão fazer parte de mim, vão ocupar metade do meu dia e me fazer jorrar sangue pelos olhos. Vão me fazer nostálgica e tão à flor da pele que vão fazer dias parecerem anos e anos, séculos. Mas vão me livrar de todo o mal e de toda a saudade; e vão me deixar esperançosa, a pensar que não há nada que vai, que um dia não volte. Não há nada que vai, que um dia não volte.

domingo, 12 de outubro de 2008

coldsunlight

O dia começa com os restos dos pensamentos me rodeando. A noite não sonhou por mim e mal pôde me fazer pregar os olhos.
Lembrei de ti ao sorrir e dos teus lábios a me falar como meus olhos ficam puros com a luz do sol. Lembrei-me do vento forte e das ondas que quebravam nas pedras, absorvendo para si todo o mal que outrora nos rodeava.
De que poderia eu viver senão das lembranças? De que mais eu teria tamanha saudade senão do teu jeito tímido com que me recebeu em tua vida, assumindo quaisquer que fossem os riscos? Se foi por mim que abandonaste a razão por muitos dias, se foi à minha loucura que cedeu ao me dares as tuas duas mãos?
Foste tu quem me serviu de apoio enquanto andava sem equilíbrio no meio-fio daquela tarde alaranjada, cujo sol tentava confortar-me a inquietude, naquela tarde em que respirei fundo pela primeira fez antes de te abraçar.
Refaço tudo em minha mente, desde o primeiro encontro de lábios até a sensação de ter teu corpo sobre o meu. Cuido de cada detalhe como se fossem todos vivos e os guardo no mais puro de meu íntimo. E toda noite eles resolvem se encontrar comigo, tiram meu sono e seguram minhas pálpebras com força, me fazendo andar pela casa procurando o pedaço teu que resolveu fugir de mim.


O dia começa com os restos...


sábado, 27 de setembro de 2008

Eu?

Eu. Sou uma mistura de arrogância com boa vontade; de complexidade com simplicidade; de vergonha com orgulho; de verdade com meia verdade; de dúvidas e certezas; e de preguiça com vontade. Quando me perguntam o que eu tenho que estou quieta, eu invento, só pra satisfazer a vontade que a outra pessoa tem de estender a mão. E quando eu realmente preciso, eu me calo. Coisa estranha. Procuro metáforas pra satisfazer esse antagonismo mas não encontro. Isso é só meu. Não há com o que comparar.
Sempre abaixo a cabeça pros problemas e pras pessoas. Sempre me vejo do outro lado do espelho procurando aquele ser que eu digo ser "eu". Aquele ser forte, despreocupado, desinibido e extrovertido. Mas no fundo eu sinto vergonha, sinto medo, sinto vontade e não faço. E quando eu fecho meus olhos no fim do dia eu procuro refazê-lo na minha mente e me envergonho dos meus erros. Prometo nunca mais repetir, prometo mudar; mas sempre acabo fazendo tudo de novo, tudo igual. E é nesse ciclo que meu "eu" se confunde com o que eu quero ser, com o que eu tento ser e com o que eu aparento ser. E numa sucessão de "partes de mim" eu me confundo comigo mesma.